Editorial

Solidariedade é importante, mas o Poder Público tem responsabilidades

O trabalho voluntário, as quantidades enormes de doações, as pessoas se doando ao máximo para fazer o bem a um Rio Grande do Sul destruído são talvez a única coisa positiva que resta desse inferno coletivo que vivemos. Tudo isso é muito bem-vindo e estimula esse sentimento de coletividade, de olhar caridoso pelo próximo, uma chama de humanidade dentro de uma situação inimaginável. Mas é importante lembrar que “o povo pelo povo”, um lema tão usado nos últimos tempos, se esvai rapidamente e o que resta é a responsabilidade do Estado constituído, do Poder Público, que com a destinação de recursos obtidos através da arrecadação de impostos e organização constitucional, tem responsabilidade para com seu povo.

Infelizmente, é natural que a solidariedade enfraqueça conforme o tempo passa. Salvo raras pessoas e entidades que se dedicam quase que integralmente ao próximo, a maioria das outras pessoas acaba tendo que seguir com suas vidas, seja por responsabilidades que se empilham, seja por outro motivo. E, dentro do contexto atual e do cenário que se desenha, precisará de muito tempo para tanta gente que perdeu tudo conseguir retornar a uma espécie de vida normal - já que, na prática, esse trauma durará muito além. As perdas são mais do que financeiras, mas emocionais. Ter seus lares violados pela violência do tempo - e da criminalidade, em tantos casos -, perder entes queridos, ver bairros inteiros serem destruídos, tudo isso é uma dor que não passa tão rápido. Talvez nunca passe.

Diante de tudo isso, é necessário muito amparo do Poder Público nos três poderes e três níveis (Executivo, Legislativo e Judiciário; municipal, estadual e federal) para oferecer, acima de tudo, dignidade a quem restou sem praticamente nada. Vai ser preciso muito investimento em infraestrutura, em saúde - física e mental - e em apoio para retomada financeira, de moradias e da economia local.

Há um trabalho hercúleo pela frente no Rio Grande do Sul, que certamente não demandará só dos atuais gestores públicos, mas também por tantos outros mandatos, pois será necessário prosseguir por muitos anos, talvez décadas, até retomarmos as perdas estruturais e econômicas sofridas. Além disso, requer muita prevenção para que nunca mais a gente viva tamanha tragédia coletiva.


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